[Alhear - pôr-se fora de um assunto ou de uma conversa; ficar
indiferente a; isolar-se; afastar-se; distrair-se; abstrair-se (…)]
Alheado daquilo que catalogam como “vida real”, persegue sobre a
mesma corda bamba, contudo Ele parece
movimentar-se numa espécie de fio-de-prumo
do sonho. Absorto, isolado num mundo que é só Dele, tem convicções tão reais como uma velha tábua que range à sua
passagem.
Não está à espera de ninguém nem
de coisa alguma, somente sentado a contemplar a beleza do nada. Encontra naquele espaço uma estranha tranquilidade e de olhos
semicerrados consegue distinguir todas as formas e todas as cores. Certamente
ninguém suspeita de como tudo é tão mais nítido quanto mais afastado se está dessa
tal “realidade”.Alienado (ou iludido) para os restantes, passeia-se alegremente perdido nos seus ideais e consumido por um enxame de ideias, algumas felizes, outras nefastas. Fantasia sobre o futuro e poetiza com o passado, até mesmo o vil passado! Passa os dias distraído na contemplação de algo que em palavras não suas* é “tão concreto e definido como outra coisa qualquer”.
Ele é assim, virado do avesso, com as costas no mundo, com o mapa
ao contrário. Ele está aqui, mas não
está em lado nenhum.
Ele está alheado.
*Excerto de “Pedra Filosofal”,
poema de António Gedeão (1906-1997).