Algures no meio, dos lados, por fora, à margem, numa dimensão paralela, numa bolha está a "Geração Massa com Atum".

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Diálogo (minimamente) baseado em factos verídicos: Ficcional

Numa dessas noites, numa rua vulgar mas muito frequentada, à porta dum desses bares muito cool, muito retro, quase vintage: Ele chega.
A passada é larga e estonteante e num gesto impensado mas genuíno Ele sacode a cabeça para o lado, como se tivesse levado um estalo ou se esquecido de trancar as portas do carro. Teria sido, afinal, esquecimento?! Definitivamente, não. Apenas uma ligeira reminiscência de um cabelo (que Ele já nem tem) “à f*dasse”, esse sim muito retro, quase vintage.

Imperturbável, ele continua.
Os olhos Dele passeiam a multidão como zumbidos. De facto não está com pressa de chegar, somente à cata de uma vintena de acenos confortáveis enquanto não alcança o outro bar, ainda mais cool, mais retro, definitivamente vintage, onde estão os amigos. Dizem eles, que lá se servem as caipirinhas mais económicas do perímetro, apesar de não as saberem fazer e de ignorarem por completo o açúcar amarelo. Quem se importa, afinal? (Eu, por acaso. E muito!)

Continuando...
— Olá... Então?! Tudo bem? — Diz Ele de cabeça inclinada, com a língua muito enrolada. Não é do álcool, porque ainda nem bebeu. É a reminiscência...
— Desculpa?! Não estou a ver (mesmo, completamente, de todo) quem és! — Responde num tom chocado, muito empertigada, também Ela muito cool, muito retro, quase vintage.
— Conhecemo-nos do Face... — Continua Ele, ligeiramente avermelhado. Contudo, está escuro, não se vê. Não fosse a língua enrolar-se tanto e a coisa talvez se compusesse.
— Ah! Pois... — Lembra-se a custo, desesperada. — «Não acredito que aceitei este espécime como amigo!»
— E então Vigo, que tal? A noite lá é brutal! Não é?! — Atira Ele, convencido de que encontrou solução para a total falta de interesse Dela.
— Vigo?! — O choque aumenta e os sinais corporais começam a manifestar-se de forma inequívoca. Não está mesmo para ali virada. Mas ele não percebe e, ainda assim, insiste.
— Sim! Naquelas fotos, do Face
— Quais fotos?! — Questiona-o com uma indignação crescente. — Desculpa, acho que me estás a confundir com alguém, não sei de quê que estás para aí a falar! — Nisto, Ela vira-lhe costas e desaparece no meio da multidão, tão depressa como lhe tinha parecido ao surgir naquela noite.

De sorriso amarelo, levemente derrotado, retoma o seu intento primordial: chegar ao outro bar, ainda mais cool, mais retro, definitivamente vintage, onde estão os amigos.
De cabeça baixa, respondendo ainda a alguns acenos, não deixa de indagar continuadamente: «Fogo! Que situação… Tinha a certeza absoluta que aquela era a amiga da irmã da Di* de Guimarães. Aquela miúda que é super parecida com a Lia*, a amiga da Juca*. Ou então, se calhar…».
No meio da sua secreta especulação é interrompido por um amigo que, farto de esperar, vem ao seu encontro:
— Então pah?! Estás perdido, ou quê?
Os dois arrepiam caminho e Ele não pensa mais no assunto, afinal de contas são apenas vicissitudes da vida e do Face...

Claro está, nada disto teria sido a mesma coisa se não se tivesse passado à porta dum bar muito cool, muito retro, quase vintage.




* Nomes fictícios de inspiração duvidosa.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CASA DOS DEGREDOS

A minha “voz” pergunta, pausada e atónita: QUEM SÃO ESTAS PESSOAS?!
Serão de algum modo representativas da sociedade portuguesa? Caso se confirme que sim, só tenho a concluir que estamos perante algo excessivamente preocupante.
Mais inquietante é constatar que, embora forçada pelos factos demográficos, para todo e qualquer efeito me incluo nesta geração que, pior do que rasca, é integralmente OCA. (Ocaaa … Ocaa ………. Oca ..................) Está aí alguém? (Aí alguém? … Alguém? ………. Alguém?..................) ALGUÉM?

Este era aquele momento assombroso em que o Neurónio 2, reactivado por estímulos cerebrais admiráveis, entrava em mini-conferência com o Neurónio 1 e, para lá de todas as expectativas, surgia uma resposta. Bons velhos tempos é o que vos digo. O Neurónio 1 morreu e o Neurónio 2, por falta de autonomia, está praticamente inválido.

Devaneios à parte, fica uma última observação: para lá de afectos e opiniões, tenho que reconhecer a capacidade espantosa da apresentadora Júlia Pinheiro para conseguir manter um diálogo de 5 minutos, pois não tem sido fácil. Mesmo com uma bagagem considerável e sendo quase uma “doutorada” neste tipo de entretenimento, são vários os momentos de puro desconcerto que o directo não deixa esconder. Não é falta de profissionalismo, não é cansaço é com toda a certeza a contemplação do absurdo. Acabou de me acontecer o mesmo hoje e tive que o partilhar neste espaço.

Contemplação do absurdo, um óptimo exercício de elevação de auto-estima! Recomendo. Mas em dose muito moderada e nunca para os mais sensíveis, pois nesse caso o risco de alienação é demasiado elevado para se aventurarem.

Caso para citar, com uma boa porção de humor ao estilo Scary Movie: “I see dead people” .