massa com atum

Algures no meio, dos lados, por fora, à margem, numa dimensão paralela, numa bolha está a "Geração Massa com Atum".

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Alheado


[Alhear - pôr-se fora de um assunto ou de uma conversa; ficar indiferente a; isolar-se; afastar-se; distrair-se; abstrair-se (…)]

 
Alheado daquilo que catalogam como “vida real”, persegue sobre a mesma corda bamba, contudo Ele parece movimentar-se numa espécie de fio-de-prumo do sonho. Absorto, isolado num mundo que é só Dele, tem convicções tão reais como uma velha tábua que range à sua passagem.
Não está à espera de ninguém nem de coisa alguma, somente sentado a contemplar a beleza do nada. Encontra naquele espaço uma estranha tranquilidade e de olhos semicerrados consegue distinguir todas as formas e todas as cores. Certamente ninguém suspeita de como tudo é tão mais nítido quanto mais afastado se está dessa tal “realidade”.

Alienado (ou iludido) para os restantes, passeia-se alegremente perdido nos seus ideais e consumido por um enxame de ideias, algumas felizes, outras nefastas. Fantasia sobre o futuro e poetiza com o passado, até mesmo o vil passado! Passa os dias distraído na contemplação de algo que em palavras não suas* é “tão concreto e definido como outra coisa qualquer”.

Ele é assim, virado do avesso, com as costas no mundo, com o mapa ao contrário. Ele está aqui, mas não está em lado nenhum.
Ele está alheado.

 

*Excerto de “Pedra Filosofal”, poema de António Gedeão (1906-1997).

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Diálogo (minimamente) baseado em factos verídicos: Ficcional

Numa dessas noites, numa rua vulgar mas muito frequentada, à porta dum desses bares muito cool, muito retro, quase vintage: Ele chega.
A passada é larga e estonteante e num gesto impensado mas genuíno Ele sacode a cabeça para o lado, como se tivesse levado um estalo ou se esquecido de trancar as portas do carro. Teria sido, afinal, esquecimento?! Definitivamente, não. Apenas uma ligeira reminiscência de um cabelo (que Ele já nem tem) “à f*dasse”, esse sim muito retro, quase vintage.

Imperturbável, ele continua.
Os olhos Dele passeiam a multidão como zumbidos. De facto não está com pressa de chegar, somente à cata de uma vintena de acenos confortáveis enquanto não alcança o outro bar, ainda mais cool, mais retro, definitivamente vintage, onde estão os amigos. Dizem eles, que lá se servem as caipirinhas mais económicas do perímetro, apesar de não as saberem fazer e de ignorarem por completo o açúcar amarelo. Quem se importa, afinal? (Eu, por acaso. E muito!)

Continuando...
— Olá... Então?! Tudo bem? — Diz Ele de cabeça inclinada, com a língua muito enrolada. Não é do álcool, porque ainda nem bebeu. É a reminiscência...
— Desculpa?! Não estou a ver (mesmo, completamente, de todo) quem és! — Responde num tom chocado, muito empertigada, também Ela muito cool, muito retro, quase vintage.
— Conhecemo-nos do Face... — Continua Ele, ligeiramente avermelhado. Contudo, está escuro, não se vê. Não fosse a língua enrolar-se tanto e a coisa talvez se compusesse.
— Ah! Pois... — Lembra-se a custo, desesperada. — «Não acredito que aceitei este espécime como amigo!»
— E então Vigo, que tal? A noite lá é brutal! Não é?! — Atira Ele, convencido de que encontrou solução para a total falta de interesse Dela.
— Vigo?! — O choque aumenta e os sinais corporais começam a manifestar-se de forma inequívoca. Não está mesmo para ali virada. Mas ele não percebe e, ainda assim, insiste.
— Sim! Naquelas fotos, do Face
— Quais fotos?! — Questiona-o com uma indignação crescente. — Desculpa, acho que me estás a confundir com alguém, não sei de quê que estás para aí a falar! — Nisto, Ela vira-lhe costas e desaparece no meio da multidão, tão depressa como lhe tinha parecido ao surgir naquela noite.

De sorriso amarelo, levemente derrotado, retoma o seu intento primordial: chegar ao outro bar, ainda mais cool, mais retro, definitivamente vintage, onde estão os amigos.
De cabeça baixa, respondendo ainda a alguns acenos, não deixa de indagar continuadamente: «Fogo! Que situação… Tinha a certeza absoluta que aquela era a amiga da irmã da Di* de Guimarães. Aquela miúda que é super parecida com a Lia*, a amiga da Juca*. Ou então, se calhar…».
No meio da sua secreta especulação é interrompido por um amigo que, farto de esperar, vem ao seu encontro:
— Então pah?! Estás perdido, ou quê?
Os dois arrepiam caminho e Ele não pensa mais no assunto, afinal de contas são apenas vicissitudes da vida e do Face...

Claro está, nada disto teria sido a mesma coisa se não se tivesse passado à porta dum bar muito cool, muito retro, quase vintage.




* Nomes fictícios de inspiração duvidosa.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CASA DOS DEGREDOS

A minha “voz” pergunta, pausada e atónita: QUEM SÃO ESTAS PESSOAS?!
Serão de algum modo representativas da sociedade portuguesa? Caso se confirme que sim, só tenho a concluir que estamos perante algo excessivamente preocupante.
Mais inquietante é constatar que, embora forçada pelos factos demográficos, para todo e qualquer efeito me incluo nesta geração que, pior do que rasca, é integralmente OCA. (Ocaaa … Ocaa ………. Oca ..................) Está aí alguém? (Aí alguém? … Alguém? ………. Alguém?..................) ALGUÉM?

Este era aquele momento assombroso em que o Neurónio 2, reactivado por estímulos cerebrais admiráveis, entrava em mini-conferência com o Neurónio 1 e, para lá de todas as expectativas, surgia uma resposta. Bons velhos tempos é o que vos digo. O Neurónio 1 morreu e o Neurónio 2, por falta de autonomia, está praticamente inválido.

Devaneios à parte, fica uma última observação: para lá de afectos e opiniões, tenho que reconhecer a capacidade espantosa da apresentadora Júlia Pinheiro para conseguir manter um diálogo de 5 minutos, pois não tem sido fácil. Mesmo com uma bagagem considerável e sendo quase uma “doutorada” neste tipo de entretenimento, são vários os momentos de puro desconcerto que o directo não deixa esconder. Não é falta de profissionalismo, não é cansaço é com toda a certeza a contemplação do absurdo. Acabou de me acontecer o mesmo hoje e tive que o partilhar neste espaço.

Contemplação do absurdo, um óptimo exercício de elevação de auto-estima! Recomendo. Mas em dose muito moderada e nunca para os mais sensíveis, pois nesse caso o risco de alienação é demasiado elevado para se aventurarem.

Caso para citar, com uma boa porção de humor ao estilo Scary Movie: “I see dead people” .

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

VINAGRE

Exmo. Sr. Professor Doutor Mestre Graduado e... Ah! Claro… Desempregado:

Ora muito bem, venho por este meio congratulá-lo pelo seu virtuoso curriculum vitae,
mais diria: o seu curriculum é Ouro sobre Azul!

Espantosa a forma como os seus “nobríssimos” graus académicos se complementam para adornar
a sua tão extensa categoria de Habilitações Literárias.

Porém, todavia, ora… contudo, é com tamanho pesar que lhe informo também, que não teremos lugar aqui para si.
Caso não tenha, porventura, reparado (a letra tamanho 9) tínhamos referido que o item “experiência comprovada” era obrigatório e, assim sendo, claro está, critério de exclusão. Oh! Não pode imaginar o nosso desalento e consternação por tal facto.

Mas atenção. Não desanime de todo! Porque só pela sua prodigiosa carta de apresentação, mais curriculum vitae ímpar,
ganhou a espectacular oportunidade de ficar a pertencer à nossa base de dados!!! Não é fantástico?!

Mais lhe digo, se, por acaso, o seu perfil* coincidir com aquilo que possamos futuramente (vá lá, nos próximos meses,
até o seu contacto ir automaticamente para o lixo numa actualização de base de dados) estar à procura, entraremos imediatamente em contacto consigo!!!

Da nossa parte, só lhe podemos desejar as maiores felicidades e continuação de grande dose de paciência e tempo
para se submeter aos seus próximos processos de recrutamento.

Subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos,
Empresa que ainda possui uma réstia de humanidade para lhe responder.


*Entende-se por “perfil”, amálgama de características psicológicas e técnicas, eficazmente comprovada, através de infindáveis testes criteriosamente elaborados pelo método “chapa 5”.

terça-feira, 25 de maio de 2010

No limite, haverá sempre massa com atum!

Quando os recursos são limitados e a motivação para confeccionar é nula,
a resposta é simples: massa com atum!
É fácil, é nutritivo, é rápido e, acima de tudo, mata a fome.
Este é um blog para a degustação de pequenos desabafos, com predilecção
pela utilização de dois ingredientes:
Sarcasmo (mas só se for na dose certa) e Boa Vontade (qb.).
O resto fluirá com naturalidade.
Vivemos na era "Facebook, FarmeVille e Grupos com nomes tão extensos, quanto os seus conteúdos desprovidos de interesse, fúteis e, porque não, bacocos" e a "Geração Rasca" faz já parte do passado.
Algures no meio, dos lados, por fora, à margem, numa dimensão paralela, numa bolha está a "Geração Massa com Atum". Não é necessário abre-latas, só imaginação e boa vontade (já tinha dito? então repito: boa vontade!)
Estamos cá todos para fazer algo que marque a diferença! Ou então, não... hum...
No limite, haverá sempre massa com atum!
Let's just do it!
Conselho útil para a preparação de conteúdo:
- Escorrer previamente o atum (óleo a mais faz mal ao colesterol, entope artérias e isso é mau para a produtividade intelectual e física... Fui clara?!)